Educação
Eleito, Bolsonaro insiste em fakenews sobre kit gay
Em entrevista, Bolsonaro falou novamente sobre a falsa existência do kit gay, que na verdade era a iniciativa Escola sem Homofobia. O material nunca chegou às escolas

O candidato eleito à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) voltou a falar sobre a existência do kit gay, durante entrevista ao Jornal Nacional na segunda-feira 29. “Eu ganhei o rótulo, por muito tempo, de homofóbico. Na verdade, eu fui contra a um kit feito pelo então ministro da Educação, Haddad, em 2009 para 2010, onde chegaria nas escolas um conjunto de livros, cartazes e filmes onde passariam crianças se acariciando e meninos se beijando. Não poderia concordar com isso…”, declarou ao ser questionado como se posiciona diante os ataques verbais e físicos sofridos por gays ao longo das eleições.
Em outra entrevista cedida ao programa no dia 28 de agosto, o então presidenciável mostrou o livro infanto-juvenil “Aparelho Sexual e Cia”, editado pela Cia das Letras, e afirmou que a obra era parte integrante do suposto kit gay. À época, Bolsonaro gravou um vídeo em suas redes sociais dizendo que o livro era uma porta aberta para a pedofilia e que seria uma coletânea de absurdos que estimula precocemente as crianças a se interessarem por sexo.
A informação já tinha sido desmentida pelo Ministério da Educação em 2016, época em que a pasta negou que tivesse adquirido os exemplares para entregar nas escolas. A Fundação Biblioteca Nacional, ligada ao Ministério da Cultura, é que comprou, em 2011, 28 exemplares da obra para distribuir em bibliotecas públicas.
Com a polêmica mais recente envolvendo o livro, a editora Cia das Letras também se posicionou negando que a obra integrasse o suposto “kit gay” e esclarecendo o objetivo do título. “O conteúdo da obra nada tem de pornográfico, uma vez que, formar e informar as crianças sobre sexualidade com responsabilidade é, inclusive, preocupação manifestada pelo próprio Estado, por meio de sua Secretaria de Cultura do Ministério da Educação que criou, dentre os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), um específico à ‘Orientação Sexual’ para crianças, jovens e adolescentes”, pronunciou-se a empresa.
Leia Também:
TSE manda remover vídeos de Bolsonaro sobre kit anti-homofobia
Semanas antes do segundo turno das eleições, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que fossem retirados do ar postagens e vídeos que fizessem referência ao falso tema. No entanto, no dia 25 de outubro, a campanha do candidato voltou a veicular na televisão e no rádio uma peça sobre um beijo lésbico que também integraria o kit.
O candidato à presidência pelo PT, Fernando Haddad, voltou a se posicionar em suas redes sociais dizendo que pela “enésima vez” Bolsonaro foi desmentido com o tema do kit gay.
Mas, afinal, o kit gay existe?
Não. O que Bolsonaro e a bancada evangélica chamam de kit gay é a iniciativa Escola sem Homofobia, integrante do programa Brasil sem Homofobia, criado pelo governo federal em 2004. O kit era composto de três filmes e um guia de orientação aos professores para apoiar no combate ao preconceito e discriminação de homossexuais no ambiente escolar.
O material chegou à ser entregue às escolas?
Não. O kit anti-homofobia foi suspenso em 2011 pela então presidenta Dilma Rousseff, após polêmicas com as bancadas religiosas do Congresso.
Quem criou o kit anti-homofobia?
O projeto fez parte do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (PNPCDH-LGBT) – um conjunto de mais de 160 diretrizes elaboradas pela Secretaria de Direitos Humanos, em parceria com entidades não governamentais, que visa a promover a cidadania e os direitos humanos da comunidade LGBT.
Veja os vídeos produzidos pela iniciativa Escola sem Homofobia
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.